quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Código Florestal


Lei ambiental: a mudança será para pior

Vania Neu

O Código Florestal Brasileiro em vigor foi instituído em 15 de setembro de 1965, pela Lei 4.777, com objetivo de ser um instrumento legal para evitar a perda da biodiversidade, erosão e empobrecimento do solo assim como o assoreamento dos rios e demais corpos d’água. Um pequeno grupo de pessoas, porém muito poderoso em termos econômicos, alega que o Código Florestal está defasado, engessando o crescimento do país, além de comprometer a produção de alimentos, por reduzir a área destinada à agropecuária. Os argumentos acima citados não têm embasamento científico.

O primeiro aargumento relacionado à defasagem não está correto, pois mesmo sendo instituído em 1965, o Código Florestal passou por inúmeras revisões e medidas provisórias, que foram adequando-o às condições atuais. A segunda afirmativa também não é verdadeira, pois os grupos que estão descontentes com o atual Código Florestal em sua maioria são latifundiários, empresários do agronegócio, produtores de commodities destinadas predominantemente à exportação. Grande parte da produção originária do agronegócio, que detêm 75% das terras do nosso país, consiste em matéria prima para exportação, enquanto a agricultura familiar, detendo apenas 25% das terras, produz em torno de 77% do nosso alimento (MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário).

A alegação de que a legislação ambiental compromete a produção de alimentos devido à redução de áreas destinadas à agropecuária é facilmente derrubada pelos dados do pesquisador Gerd Sparovek da renomada Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (ESALQ). Em seus trabalhos, Gerd mostra que atualmente existe no país mais de 100 milhões de hectares de pastagens degradadas que poderiam ser recuperadas e tornarem-se áreas produtivas. Esta área é imensa quando comparada aos 67 milhões de hectares atualmente ocupados pela agricultura. Além dos atualmente 211 milhões de hectares ocupados pela pecuária num modelo de baixíssima produtividade, produzindo 1,1 animais por hectare.

Hoje existem inúmeros trabalhos científicos mostrando que a produtividade do setor agropecuário pode facilmente ser dobrada, sem derrubar uma árvore, e respeitando os dispositivos do atual Código Florestal. O Projeto de Lei 1.876/99 foi construído para atender os interesses da minoria anteriormente citada, as quais têm a maior fração de terras em nosso país e possuem o maior passivo ambiental. Em nenhum momento a comunidade científica do nosso país foi convidada a participar da construção de uma nova proposta.

Por outro lado, pesquisas mostram que a nossa sobrevivência depende de um conjunto de benefícios advindos dos serviços ecossistêmicos. Estes serviços são os benefícios que as pessoas recebem dos ecossistemas, e as florestas são de extrema importância, pois nos fornecem uma série de serviços como as chuvas, purificação das águas, preservação dos recursos hídricos, fonte de alimento, resinas, fármacos, produção de oxigênio, ciclagem de nutrientes, dentre vários outros. Estes serviços são comprometidos quando as áreas de florestas são substituídas por outros usos do solo (Milenio, 2006).

O Projeto de Lei 1.876/99 tira a função ambiental de preservação das Áreas de Proteção Permanente (APPs). Como o próprio nome diz, as áreas de APP devem ser preservadas e não apenas conservadas como propõem o substitutivo. A proposta também retira da categoria de APP os topos de morros, montes, montanhas, serras e áreas com altitude superior a 1.800m. A cada dia, recebemos inúmeras notícias via meios de comunicação, sobre relatos trágicos com a perda de centenas de vidas devido à ocupação irregular das áreas de encostas. Até mesmo os leigos neste assunto sabem da importância em se preservar estas áreas. Não são necessários dados científicos, para entendermos a importância da preservação das APPs, basta assistir diariamente as noticias em nosso país.

Outra categoria de APP que está seriamente ameaçada, ou seja, deixará praticamente de existir, são as matas ciliares, nas margens dos rios. O código em vigor institui como área de APP as margens dos rios, considerando o leito maior do rio, ou seja, o leito do rio durante o período de cheia. O PL 1876/99 propõe que se considere a margem do rio levando em conta o leito menor.

Imaginamos o exemplo do rio Uatumã, que o Professor Fernando Jardim citou em recente debate na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), que apresenta na seca largura de 100 m, enquanto no período de cheia 5.000 m. Ao aprovar o PL 1876/99, a área de APP, calculada a partir do leito menor do rio (período de seca), ficaria restringida a 200 m. Dessa forma, os 500 metros de faixa marginal que hoje é considerada APP poderiam ser totalmente desmatados, e 4.800 m, ou seja, 96% do canal do rio, estariam livres para qualquer uso. Além das áreas de APPs desaparecerem, o leito do rio poderá ser ocupado.

Ao aceitar a proposta do substitutivo, podemos amanhã estar construindo nossas casas ou mesmo plantando soja, cana-de-açúcar, fumo dentre outras culturas dentro do leito dos rios. E quando o rio encher e levar nossas casas e nossas plantações, de quem será a culpa? Foi simplesmente castigo de Deus?
Fonte: http://raizasas.blogspot.com/2010/11/codigo-florestal-o-retorno_04.html


Como já foi demonstrada em vários trabalhos, a mata ciliar é o ecossistema de maior importância para a manutenção da vida aquática dos rios. Ela serve como filtro na retenção de sedimentos, agrotóxicos e fertilizantes originários das áreas alteradas, seja pela ocupação urbana ou rural. À medida que eliminamos as matas ciliares, estamos também ameaçando os peixes, fonte de proteína de extrema importância para comunidades tradicionais ribeirinhas, indígenas, caboclos, que, em muitos casos, são comunidades com a maior carência de alimento, as quais dependem dos rios para sua sobrevivência.

Outra grande ameaça está relacionada à Reserva Legal (RL), a qual o atual Código Florestal caracteriza como necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos e à conservação da biodiversidade. O uso sustentável, no referido código, permite o uso e manejo das áreas de Reserva Legal. Pelo PL 1876/99, a Reserva Legal passará a ter como função principal o uso econômico, e a conservação passa a ser uma função auxiliar. Permite ainda que, no caso da ausência de Reserva Legal no imóvel, poderá ser realizada a compensação ambiental da área sob regime de servidão ambiental em outra bacia hidrográfica, ou seja, podemos desmatar em Paragominas (PA), e compensar em Xapuri no Acre.

Ao falar em Reserva Legal, não podemos esquecer que a floresta é responsável por grande parte das chuvas, pois, via evapotranspiração, joga umidade para atmosfera. Segundo Antônio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), “A Amazônia é uma bomba hidrológica impressionante, que lança diariamente 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera, garantindo que uma área responsável por 70% do PIB sul-americano seja devidamente irrigada.” Em 1985, o pesquisador Eneas Salati já mostrava que, na Amazônia, no mínimo 50% da chuva tem origem na umidade que a própria floresta produzia. Além da regulação climática de temperatura, umidade e precipitação, as florestas são de extrema importância para manutenção dos estoques de carbono armazenados na biomassa viva.

“Como iremos cumprir os acordos internacionais assinados, nos quais o Brasil se comprometeu em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, se estamos aprovando uma legislação que estimula e legaliza o desmatamento de milhões de hectares de vegetação nativa?”
No processo de corte e queima da vegetação, ocorre grande emissão de carbono para a atmosfera. Atualmente, dos 7,6 bilhões de toneladas de carbono liberadas anualmente para a atmosfera, a queima de florestas tropicais ainda é responsável pela emissão de 1,6 bilhões de toneladas. Neste cenário, o Brasil é considerado um dos países que mais contribui para este tipo de emissão, devido ao desmatamento principalmente do bioma Amazônico. Segundo estimativas do Observatório do Clima, caso aprovadas as alterações no Código Florestal, estaremos legalizando uma emissão em torno de 25 bilhões de toneladas de CO2 , ou seja, emissão 13 vezes superior as que ocorreram no ano de 2007. Como iremos cumprir os acordos internacionais assinados, nos quais o Brasil se comprometeu em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, se estamos aprovando uma legislação que estimula e legaliza o desmatamento de milhões de hectares de vegetação nativa?

A liberação de milhões de hectares de vegetação nativa para o desmatamento elevará ainda mais as concentrações dos gases de efeito estufa na atmosfera, e os efeitos sobre o clima poderão ser mais intensos. Ao falar em mudanças climáticas, devemos citar o estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinhas (UNICAMP) (Pellegrino, G. Q., Assad, E. D.; Marin, F. R.) publicado na Revista Multiciência, Campinas, no ano de 2007. Segundo este estudo, num cenário bastante otimista com o aumento de apenas 3° C da temperatura, as áreas hoje utilizadas pela agricultura não terão aptidão para as mesmas culturas, e enfrentaremos nos próximos anos sérios riscos no que diz respeito à segurança alimentar em nosso país. Dados deste estudo indicam a redução das áreas para as culturas como feijão (11%), arroz (18%), café (58%), milho (7%) e a soja (39%). A única cultura que será beneficiada com o aumento da temperatura é a cana-de-açúcar, a qual poderá dobrar sua área de produção, ou seja, estamos reduzindo a produção de alimento e estimulando a produção de etanol.

O Projeto de Lei 1.876/99 propõe ainda a isenção de recuperação da reserva legal para propriedades com até quatro módulos fiscais. Módulo fiscal é uma unidade de área estabelecida criada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que varia em área de 5 a 110 hectares, dependendo da região. O projeto prevê ainda que em grandes áreas, a recuperação deverá ser realizada somente na área que exceder aos 4 módulos fiscais, ou seja, uma propriedade de 500 ha, onde o módulo fiscal é de 100 ha, localizado no bioma amazônico que prevê reserva legal de 80%, existiria a necessidade de recuperar apenas 80 hectares.
“Além de favorecer uma pequena minoria, estaremos estimulando as emissões de gases de efeito estufa, mudanças climáticas com aumento da temperatura, sérias interferências sobre o ciclo hidrológico com secas e enchentes cada vez mais extremas, aumento do nível do mar, salinização dos rios, perda irreversível da biodiversidade, insegurança alimentar, ameaça às populações mais pobres, já que estas vivem nas áreas menos favorecidas, dentre várias outras conseqüências.”

Qualquer pessoa, com um mínimo de instrução, pode fazer uma rápida revisão bibliográfica e constatar que hoje, ao avançar com o desmatamento sobre as áreas de floresta, a nossa produtividade num futuro próximo poderá ser limitada pela falta de água. Segundo José A. Marengo, pesquisador do CPTEC – INPE, a floresta amazônica é capaz de gerar diariamente níveis de vapor d'água oriundos do processo de evapotranspiração, em quantidades altamente significativas, alimentando a atmosfera com umidade e formando os "rios voadores", que conforme os movimentos da circulação geral da atmosfera são deslocados para a região centro-oeste, sudeste e sul do país. No momento em que ocorre uma grande supressão da vegetação no Bioma Amazônico, grande parte do Brasil deixará de ser beneficiado com a umidade da Amazônia.

Se o Projeto de Lei 1.876 for aprovado, será um grande retrocesso em termos de desenvolvimento, enquanto a comunidade internacional fala em sustentabilidade, redução de impactos ambientais, estamos aprovando uma legislação que legaliza justamente o contrário. Além de favorecer uma pequena minoria, estaremos estimulando as emissões de gases de efeito estufa, mudanças climáticas com aumento da temperatura, sérias interferências sobre o ciclo hidrológico com secas e enchentes cada vez mais extremas, aumento do nível do mar, salinização dos rios, perda irreversível da biodiversidade, insegurança alimentar, ameaça às populações mais pobres, já que estas vivem nas áreas menos favorecidas, dentre várias outras conseqüências.

Hoje dispomos de tecnologia para aumentar a nossa produtividade, com técnicas de plantio direto, sistemas agroflorestais, sistemas agrossilvopastoris que além de aumentar a produtividade, minimizam os impactos sobre os recursos hídricos. Também possuímos técnicas eficientes para a recuperação de áreas degradada para tornar novamente produtivo os sistemas degradados. É hora de a sociedade refletir e debater sobre como conciliar economia e meio ambiente, produção e soberania alimentar, agricultura e democratização do acesso à terra, e não ficarmos reféns de um modelo produtivista excludente e depredador dos recursos naturais.

Código Florestal

Comunidade científica critica novo Código Florestal

O presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp e Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), ressaltam preocupações da comunidade científica em relação à aprovação do novo Código Florestal Brasileiro. Os representantes da academia brasileira enviaram uma carta endereçada ao deputado Aldo Rebelo do PcdoB de São Paulo, o responsável pela redação do projeto de lei que foi aprovado em Comissão Especial da Câmara e altera a legislação florestal brasileira.

A carta alerta principalmente quanto à falta de uma base científica sólida no novo Código, alegando que a comunidade científica não foi sequer consultada na reformulação, que é, portanto, pautada em interesses unilaterais de setores econômicos específicos. A comunidade científica afirma sobre o processo de mudanças no código que, “qualquer aperfeiçoamento deva ser conduzido à luz da ciência, com a definição de parâmetros que atendam a multi-funcionalidade das paisagens brasileiras, compatibilizando produção e conservação como sustentáculos de um novo modelo econômico que priorize a sustentabilidade”. Pressupostos não atendidos no novo Código.

A SBPC e a ABC reconhecem as potencialidades agrícolas brasileiras e ressaltam a importância do setor para o desenvolvimento econômico do país, porém discordam da necessidade de expansão agrícola em detrimento do aumento da produtividade, o que acarretará em uma considerável substituição de áreas naturais por áreas agrícolas e ocupação de áreas sensíveis que deveriam estar sobre proteção legal, como áreas ripárias.

A carta ressalta que “o Código Florestal é um arcabouço legal fundamental na manutenção de paisagens multi-funcionais que permitam seu aproveitamento tanto para a produção de alimentos, fibras e bioenergia; como também para preservação e manutenção dos ecossistemas, com amplos benefícios para toda a população”.

Essas são as primeiras considerações feitas pela comunidade científica, que começou a discutir o relatório do deputado Aldo Rebelo no dia 05 de Julho em uma comissão especial criada para analisar projetos que alteram o Código Florestal (Lei 4.771/65).

Leia a carta na íntegra:

"Senhor Deputado,

O Brasil foi o primeiro país do mundo a buscar uma agricultura tropical altamente produtiva, fruto principalmente de investimentos contínuos em ciência e tecnologia. Com o aumento da produtividade das principais culturas agrícolas, a agricultura brasileira ganhou destaque mundial e passou a contribuir, decisivamente, para o desenvolvimento econômico e social do país, produzindo alimentos, fibras e bioenergia para o consumo interno e para exportação.

O Brasil já é uma potência agrícola, mas deve ser observado que o paradigma predominante em outras potências agrícolas do mundo desenvolvido é o do aumento da produtividade e não da expansão das fronteiras agrícolas. A competitividade se dá no terreno de maior inserção de ciência e tecnologia na produção e maior agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas e pecuárias.

Paralelamente, o Brasil ainda preserva grandes áreas intactas que abrigam uma extensa gama de formas de vida, caracterizando o país como detentor de uma megabiodiversidade. Portanto, o país tem a chance única na história de conciliar uma agricultura altamente desenvolvida com vastos ecossistemas naturais preservados e ou conservados que produzem uma gama de serviços ambientais dos quais a própria agricultura depende, dentre eles se destacam a manutenção da fertilidade dos solos e suas propriedades físicas e a produção e sustentabilidade dos regimes hídricos dos ecossistemas.

Editado em 1965, e substancialmente reformulado em 1989, o Código Florestal, constitui-se até hoje na peça fundamental de uma legislação ambiental reconhecida com uma das mais modernas do mundo. Ainda passível de aperfeiçoamentos como qualquer legislação, o Código Florestal é um arcabouço legal fundamental na manutenção de paisagens multi-funcionais que permitam seu aproveitamento tanto para a produção de alimentos, fibras e bioenergia; como também para preservação e manutenção dos ecossistemas, com amplos benefícios para toda a população.

Baseando-se na premissa errônea de que não há mais área disponível para expansão da agricultura brasileira, o Congresso brasileiro propôs, recentemente, uma reformulação do antigo Código Florestal.

Infelizmente, a reformulação desse Código não foi feita sobre a égide de uma sólida base científica, pelo contrário, a maioria da comunidade científica não foi sequer consultada e a reformulação foi pautada muito mais em interesses unilaterais de determinados setores econômicos. Em decorrência, a comunidade científica brasileira se encontra extremamente preocupada frente às mudanças propostas, pois esta comunidade antevê a possibilidade de um aumento considerável na substituição de áreas naturais por áreas agrícolas em locais extremamente sensíveis como são as áreas alagadas, a zona ripária ao longo de rios e riachos, os topos de morros e as áreas com alta declividade.

As mudanças do Código Florestal igualmente poderão acelerar a ocupação de áreas de risco em inúmeras cidades brasileiras, estimular a impunidade devido a ampla anistia proposta àqueles que cometeram crimes ambientais até passado recente e a oportunidade de Estados brasileiros utilizarem a prerrogativa de legislar sobre temas ambientais para atrair futuros investimentos associados a mais degradação ambiental no meio rural.

Esta substituição levará, invariavelmente, a um decréscimo acentuado da biodiversidade, a um aumento das emissões de carbono para a atmosfera, no aumento das perdas de solo por erosão com consequente assoreamento de corpos hídricos, que conjuntamente levarão a perdas irreparáveis em serviços ambientais das quais a própria agricultura depende sobremaneira, e também poderão contribuir para aumentar desastres naturais ligados a deslizamentos em encostas, inundações e enchentes nas cidades e áreas rurais.

Assim sendo, a comunidade científica reconhece claramente a importância da agricultura na economia brasileira e mundial, como também reconhece a importância de aperfeiçoar o Código Florestal visando atender a nova realidade rural brasileira.

Entretanto, entendemos que qualquer aperfeiçoamento deva ser conduzido à luz da ciência, com a definição de parâmetros que atendam a multi-funcionalidade das paisagens brasileiras, compatibilizando produção e conservação como sustentáculos de um novo modelo econômico que priorize a sustentabilidade.

Desta forma podemos chegar a decisões consensuais, entre produtores rurais, legisladores, e a sociedade civil organizada, pautadas por recomendações com base científica, referendadas pela academia e não a decisões pautadas por grupos de interesses setoriais, que comprometam de forma irreversível nossos ecossistemas naturais e os serviços ambientais que desempenham”

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fácil de fazer!!

SACO FEITO DE JORNAL
apartir deste mes não poderemos mais usar sacolas plastica..
vai aqui uma sugestao de saquinhos de papel..
O processo é muito fácil e dura cerca de 20 segundos. Basta usar uma, duas ou até três folhas de jornal juntas, para que o saquinho fique mais resistente.
como fazer,,

Como fazer:
1. Faça uma dobra para marcar, no sentido vertical, a metade da página da direita e dobre a beirada dessa página para dentro até a marca, e assim terá um quadrado.
2. Dobre a ponta inferior direita sobre a ponta superior esquerda, formando um triângulo.
3. Dobre a ponta inferior direita do triângulo até a lateral esquerda.
4. O verso ficará igual a figura 4.
5. Vire a dobradura e, novamente, dobre a ponta da direita até a lateral esquerda
6. Para fazer a boca do saquinho, pegue uma parte da ponta de cima do jornal e enfie para dentro da aba que você dobrou por último, fazendo-a desaparecer lá dentro.
7. Sobrará a ponta de cima que deve ser enfiada dentro da aba do outro lado, então vire a dobradura para o outro lado e repita a operação.
8. O jornal ficará igual o da figura 8.
9. Abrindo a parte de cima, eis o saquinho!
10. É só encaixar dentro do seu cesto e parar de usar plástico no lixo!Ver mais

domingo, 26 de fevereiro de 2012

SEMENTES CRIOULAS

Sementes da Esperança
É muito comum quando ando por aí, colocar a mão no bolso e encontrar algumas sementes. Moro na cidade há muitos anos, mas não perdi essa prática da troca e da disseminação de sementes que herdei da minha história de vivência e convivência junto ao campo.

Sempre que as famílias de agricultores se visitam, uma prática bem presente ainda hoje é a troca de mudas, sementes ou animais reprodutores. Essa prática era uma condição fundamental no melhoramento das espécies ou variedades de plantas e raças de animais. Quando um agricultor ou uma agricultora doa uma semente ou faz uma troca percebe-se um sentimento de realização, felicidade e expectativa em ambas as partes. Essa prática é cultural e faz parte da condição do “ser camponês”.

Alicerçada nessas práticas a humanidade produziu e se alimentou por mais de 10.000 anos. Mas, em apenas pouco mais de 50 anos, a produção de alimentos sofreu grandes transformações. O modelo industrial agroquímico aplicado no campo negou essas práticas populares de manutenção e melhoramento das espécies e raças classificando-as como atrasadas.


Sim, a nova ciência e tecnologia proporcionaram muitos avanços na área do melhoramento, mas teve um efeito negativo em relação à continuidade das espécies ou raças, e, ao negar a prática acima mencionada, criou-se alguns sérios problemas:

1. Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo.
2. Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também porque essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas.
3. Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis a pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas – tanto os sistemas naturais como os cultivados.
4. Crescente dependência de grande corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.

As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie, como acontece nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais.

As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.

Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como por exemplo: milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abóbora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de sementes crioulas.

A disponibilidade e continuidade dessas sementes é virtude e missão da agricultura familiar/camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes, e menos dependentes de insumos. São também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).

O futuro pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas.

A Rede Ecovida de Agroecologia é um espaço de articulação de agricultores familiares, técnicos e consumidores reunidos em associações, cooperativas e grupos informais que, juntamente com pequenas agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento da agroecologia no Sul do Brasil. Tem como objetivos com o objetivo de:

* Garantir a identidade popular e transformadora na construção da agroecologia e, responder de forma coletiva e propositiva a desafios concretos, às questões políticas, técnicas e outras, no cenário local, regional, nacional e internacional;
* Desenvolver e multiplicar as iniciativas em agroecologia;
* Estimular o trabalho associativo na produção e no consumo de produtos ecológicos;
* Articular e disponibilizar informações entre as organizações e pessoas;
* Aproximar, de forma solidária, agricultores e consumidores;
* Estimular o intercâmbio, o resgate e a valorização do saber popular;
* Ter uma marca e um selo que expressam o processo, o compromisso e a qualidade.

Guardando sementes....

Agricultura
A caixa-forte dos alimentos

A ONU inaugura depósito subterrâneo no Ártico
para preservar sementes de todo o mundo


Desde o início da agricultura, os lavradores costumam guardar parte de suas sementes. Se uma colheita for perdida, essa reserva pode ser a diferença entre a sobrevivência e a fome. O que vale para as fazendas também serve para os países. A maioria deles mantém bancos de sementes de seus principais cultivos. O mais importante do Brasil é o Cenargen, em Brasília, com mais de 100.000 tipos de semente. Isso não significa que estejam realmente seguros. Muitos desses depósitos estão em nações sujeitas a desastres naturais ou convulsões políticas. Em 1992, os talibãs destruíram a coleção nacional de sementes do Afeganistão, em Cabul. Variedades milenares de trigo foram perdidas. O banco de sementes iraquiano, localizado em Abu Ghraib, foi arrasado por vândalos em 2003, durante a invasão americana. Amostras de espécies raras de uva, trigo, lentilha, centeio e cevada desapareceram. Acaba de surgir uma solução global para todos esses riscos: será inaugurada nesta terça-feira, numa ilha do arquipélago de Svalbard, na Noruega, a 1.200 quilômetros do Pólo Norte, uma verdadeira arca de Noé dos alimentos. O depósito, construído no interior de uma montanha gelada, terá capacidade de armazenar 4,5 milhões de amostras de sementes e resistir a praticamente todas as catástrofes imagináveis, incluindo a explosão de uma bomba nuclear. O projeto é das Nações Unidas em parceria com o governo da Noruega e financiamento de Bill Gates, fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo.

O lugar está sendo chamado de forma exagerada de "caverna do juízo final". Na verdade, o banco de sementes não terá utilidade apenas se houver uma hecatombe mundial. Há outros usos para as amostras de Svalbard. O mais imediato é servir como um reservatório genético, que poderá ser utilizado por cientistas para experimentar cruzamentos e desenvolver novas variedades de plantas. Uma espécie cultivada no passado mas hoje ignorada pelos agricultores pode conter um gene que a torna resistente a pragas. Nesse caso, a engenharia genética permitiria introduzir tal gene em uma variedade usada na agricultura, aumentando sua resistência a doenças. Também seria possível desenvolver plantas adaptadas a um mundo mais quente e com menos água. "Quanto maior for a variedade de sementes à disposição, maior será a capacidade humana de se adaptar ao aquecimento global, no futuro", disse a VEJA o americano Cary Fowler, diretor do Fundo Global para a Diversidade de Sementes, o nome oficial do projeto.

Fowler, que fica a maior parte do tempo em seu escritório em Roma, controlará a caverna remotamente, por meio de câmeras e sensores de vigilância. Depois que o estoque de sementes estiver colocado em três câmaras a 18 graus negativos, a caverna ficará sem funcionários nem seguranças. De novembro a janeiro, durante a noite polar do Ártico, as portas permanecerão sempre fechadas. Novas remessas serão levadas no verão. Os idealizadores do projeto apostam que, como fica em uma ilha remota, gélida e pouco povoada, o depósito está seguro. A caverna não será o único reservatório para as sementes, já que existem outros bancos espalhados por 75 países. Seu papel é ter uma cópia de segurança de todas as sementes dos demais depósitos. Segundo Fowler, mais da metade deles está em situação de risco devido a guerras, erros humanos e infra-estrutura precária.

Desde que o homem começou a cultivar os alimentos em vez de apenas coletá-los na natureza, as espécies foram modificadas para se tornar mais nutritivas e produtivas. Esse processo, conhecido como domesticação das plantas, teve início 11.000 anos atrás no Oriente Médio e ganhou força com a descoberta de técnicas agrícolas rudimentares. Com lâminas fincadas em pedaços de madeira ou de osso, os homens colhiam grãos com mais agilidade. Cestos ajudavam no transporte e tábuas porosas facilitavam a remoção da casca dos grãos. A agricultura multiplicou entre dez e 100 vezes a produção por hectare, em comparação com as mesmas plantas na natureza. Hoje, caso a humanidade resolvesse abdicar da agricultura e voltasse a viver da caça e da coleta, estima-se que um terço da população ficaria sem comida. Um efeito colateral da opção por espécies cada vez mais produtivas e adequadas à agricultura e, mais recentemente, às exigências do mercado foi a queda na variedade de vegetais que compõem o cardápio da humanidade. Hoje, só o trigo, o arroz e o milho são responsáveis por mais da metade da dieta calórica mundial obtida com o consumo de vegetais.

Das 7.000 espécies de plantas já cultivadas pelo homem em algum momento de sua história, apenas 150 continuam a ser plantadas. Para atender aos padrões de qualidade e garantir colheitas elevadas, as sementes de uma mesma espécie produzidas atualmente também são muito parecidas entre si, o que eleva o poder destrutivo de um novo fungo ou inseto. O banco de sementes de Svalbard será a fortaleza à qual pesquisadores do mundo todo poderão recorrer em caso de emergências como essas. O depósito terá sementes silvestres e também as domesticadas. O Peru já enviou amostras de batata; a Colômbia, de feijão; e o México, de trigo e de milho. Até o momento, as Filipinas foram o país que mais contribuiu, com 70.000 amostras de arroz. O Brasil também deve mandar em breve amostras de espécies conservadas pela Embrapa. Todas as sementes continuarão sendo propriedade dos países que as enviaram. "São amostras muito valiosas, nas quais foi investido muito trabalho por séculos", diz o embaixador Jorio Dauster, do Rio de Janeiro, membro do conselho do Fundo Global para a Diversidade de Sementes. Na fria Svalbard, esse tesouro estará a salvo

Desabafo

Desabafo


Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que
sacos de plástico não são amigáveis com o ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse: - Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu: - Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora.
Sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.

- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja.

A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos.

Canetas: recarregávamos com tinta tantas vezes ao invés de comprar outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é visível que a atual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Desbancadas pelas africanas, abelhas sem ferrão ressurgem

Nanda Melonio
24 de Fevereiro de 2012

Abelha mirim, uma subfamília das abelhas sem ferrão -- meliponíneas -- produz mel considerado nobre e que pode custar 5 vezes mais caro do que o das primas, as africanizadas com ferrão. foto: Jardineiro.net (Raquel e Ives)

A criação de abelhas sem ferrão brasileiras, também chamadas de Meliponíneas, é uma atividade tradicional em quase todas as regiões do país, sendo praticada por pequenos e médios produtores. Espécies como mandaçaia, uruçu e jandaíra, dentre outras, já produziam méis com sabores singulares, meio doces, meio ácidos, e muito apreciados pelos índios desde antes da chegada dos portugueses. Isso até a chegada de variedades estrangeiras, como a europeia e a africana.

Por volta de 1839 o padre português Antonio Carneiro, trouxe ao Brasil a variedade europeia da abelha Apis mellifera L. para produzir cera e mel. Em 1956 chegou ao país para investigação científica a abelha africana, Apis mellifera scutellata. Da mistura das duas, surgiu a abelha “africanizada”, que monopolizou a produção no Brasil devido à sua alta produtividade – são 100 quilos por ano de mel produzido por essas abelhas, contra cerca de 2 a 7 quilos feitos pelas Meliponíneas. O produto local foi marginalizado de tal forma que hoje a legislação nacional só considera como mel o que é produzido pelas melíferas, com no máximo 20% de umidade, algo raro para o produto das Meliponíneas, cujo índice de umidade gira em torno de 35%, o que faz com que fermente com maior facilidade, gerando problemas de conservação.

Estudo da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicado em 2004 estima que as abelhas sejam responsáveis pela polinização de 73% das plantas do mundo. De acordo com a Cartilha de Criação de Abelhas Sem Ferrão do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), existem no mundo cerca de 20 mil espécies de abelhas, sendo boa parte delas conhecidas como abelhas solitárias, por não formarem colônias. Dentre as que formam colônias, de 300 a 400 espécies são do grupo das Meliponíneas, sendo que 200 espécies deste grupo vivem no Brasil, especialmente na região amazônica, conhecida como o berço mundial das abelhas sem ferrão. Muitas plantas locais, como araçá e camu-camu, são polinizadas pelas sem ferrão, sendo que algumas plantas dependem exclusivamente dessas abelhas para se reproduzir.


Produção de mel, além de gerar renda, pode ser uma boa aliada no combate ao desmatamento. Foto: Waleed Alzuhair

Os produtos das melipolíneas – não só o mel como o própolis, a cera e o pólen – ainda carecem de legislação. Somente em 2008, quando o Ministério da Agricultura disponibilizou o Riispoa (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal) para consulta pública, é que o Brasil passou a reconhecer esse tipo de mel como um produto específico, “mel de abelhas indígenas”, que tem sido redescoberto por chefs e gourmets devido aos seus aromas e gostos peculiares, diferentes do mel tradicional.

Além da importância gastronômica, a meliponicultura possui grande valor socioambiental. O INPA possui um Grupo de Pesquisa em Abelhas [http://gpa.inpa.gov.br/] que não só luta para preservar as Meliponíneas – prejudicadas por desmatamentos, exploração de madeira e grandes queimadas – como também pela conscientização da população nativa, que raramente está bem informada de que a conservação das colméias das sem ferrão pode ser uma fonte renovável de alimento, o próprio mel, e de geração de renda. Para não falar no papel de polinização de lavouras e pomares, o que também multiplica a fartura de alimentos.

A meliponicultura organizada em caixas, sem a destruição das colméias para a coleta do mel, é uma atividade de baixo impacto ambiental que faz uso racional dos recursos florestais, melhora a qualidade de vida das populações nativas e combate o desmatamento, pois inibe a derrubada de árvores que abrigam os ninhos.

A gruta de Lancinha

Romeu de Bruns Neto
24 de Fevereiro de 2012

A gruta da Lancinha é a terceira maior caverna do Paraná. A diversidade de ambientes, a raridade das formações rochosas e a riqueza biológica colocam Lancinha em lugar de destaque na espeleologia, a ciência que estuda as cavidades naturais. Nosso repórter Romeu de Bruns Neto esteve lá em 2005, antes da implementação do Monumento Natural criado para protegê-la, e era possível perceber os sinais de degradação, principalmente lixo, pichações e quebra das estalactites e estalagmites. Um Monumento Natural é uma categoria de Unidade de Conservação de proteção integral, criadas com a finalidade de preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica, categoria na qual a gruta de Lancinha certamente se encaixa.

Leia também:
Defensores underground (2005)
Licença subterrânea (2006)
De volta ao tempo das cavernas (2008)
Planos para as cavernas do Brasil (2009)
Primeiros efeitos da nova lei de cavernas (2010)

Mensagem do Dia

Janice Stamm
‎"Assim como a chuva provoca um alívio nas tensões atmosféricas e faz com que todos os brotos e entreabram, assim também é período de libertação traz um alívio ao que estava sendo oprimido, é um estímulo a vida!" - Janice Stamm

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

BIOMA PAMPA

Pampa
Também é conhecido como Campos do Sul ou Campos Sulinos. Ocupa uma área de 176.496 Km² correspondente cerca de 2% do território nacional e é constituído principalmente por vegetação campestre. No Brasil o Pampa só está presente do estado do Rio Grande do Sul, ocupando 63% do território gaúcho e também está presente em territórios da Argentina e Uruguay.

O Pampa é composto basicamente de gramíneas, herbáceas e algumas árvores. Serão graves os impactos da transformação no ecossistema atual em monocultura de árvores, cujo estágio de sucessão é bem diferente.

Toda monocultura provoca um desequilíbrio ambiental, que corresponde com a diminuição de algumas espécies e aumento de outras, além de alteração nas funções ecológicas básicas do ecossistema.

Os Campos da região Sul do Brasil são denominados como “pampa”, termo de origem indígena para “região plana”. Esta denominação, no entanto, corresponde somente a um dos tipos de campo, mais encontrado ao sul do Estado do Rio Grande do Sul, atingindo o Uruguai e a Argentina.

Outros tipos conhecidos como campos do alto da serra são encontrados em áreas de transição com o domínio de araucárias. Em outras áreas encontram-se, ainda, campos de fisionomia semelhantes à savana. Os campos, em geral, parecem ser formações edáficas (do próprio solo) e não climáticas. A pressão do pastoreio e a prática do fogo não permitem o estabelecimento da vegetação arbustiva, como se verifica em vários trechos da área de distribuição dos Campos do Sul.

A região geomorfológica do planalto de Campanha, a maior extensão de campos do Rio Grande do Sul, é a porção mais avançada para oeste e para o sul do domínio morfoestrutural das bacias e coberturas sedimentares. Nas áreas de contato com o arenito botucatu, ocorrem os solos podzólicos vermelho-escuros, principalmente a sudoeste de Quaraí e a sul e sudeste de Alegrete, onde se constata o fenômeno da desertificação. O solo, em geral, de baixa fertilidade natural e bastante suscetível à erosão.

À primeira vista, a vegetação campestre mostra uma aparente uniformidade, apresentando nos topos mais planos um tapete herbáceo baixo – de 60 cm a 1 m -, ralo e pobre em espécies, que se torna mais denso e rico nas encostas, predominando gramíneas, compostas e leguminosas; os gêneros mais comuns são: Stipa, Piptochaetium, Aristida, Melica, Briza. Sete gêneros de cactos e bromeliáceas apresentam espécies endêmicas da região. A mata aluvial apresenta inúmeras espécies arbóreas de interesse comercial.

Na Área de Proteção Ambiental do Rio Ibirapuitã, inserida neste bioma, ocorrem formações campestres e florestais de clima temperado, distintas de outras formações existentes no Brasil. Além disso, abriga 11 espécies de mamíferos raros ou ameaçados de extinção, ratos d’água, cevídeos e lobos, e 22 espécies de aves nesta mesma situação. Pelo menos uma espécie de peixe, cará (Gymnogeophagus sp., Família Cichlidae) é endêmica da bacia do rio Ibirapuitã.

O Pampa Gaúcho está situado no sul do Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, na divisa com o Uruguai. O Pampa é uma região de clima temperado, com temperaturas médias de 18°C, formada por coxilhas onde se situam os campos de produção pecuária e as várzeas que se caracterizam por áreas baixas e úmidas. A região sul tem, na pecuária, uma tradição que se iniciou com a colonização do Brasil.

Os campos no RS ocupam uma área de aproximadamente 40% da área total do estado. O Pampa gaúcho da Campanha Meridional encontra-se dentro da área de maior proporção de campos naturais preservados do Brasil, sendo um dos ecossistemas mais importantes do mundo.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Agricultores se aliam a marrecos contra pragas do arroz

Esse marreco de Pequim (Anas_platyrhynchos) ajuda os chineses há mais de mil anos. Agora desembarcou no Rio Grande do Sul. Foto: Quartl / Wikipédia

Marreco com arroz não é um necessariamente uma combinação culinária. Os rizicultores do Rio Grande do Sul têm apostado na criação de marrecos de Pequim como forma de garantir bons resultados na lavoura e, de quebra, o equilíbrio ecológico. As aves são verdadeiros predadores de pragas que atacam as plantações de arroz, como caramujos, arroz-vermelho e bicheira-da-raiz. Além disso, se alimentam de insetos que podem prejudicar a lavoura.
Os marrecos de Pequim têm como origem o nordeste asiático, mas possuem grande capacidade de adaptação em todo o mundo e não requerem grandes cuidados além da proteção de eventuais predadores. Para uma lavoura de arroz, são necessários, em média, 30 marrecos para cada hectare. As aves são colocadas nos arrozais logo após a colheita, antes do revolvimento do solo. Como se alimentam exclusivamente das pragas e insetos da lavoura, a partir do momento que os marrecos vão para as plantações os criadores deixam de ter custo, além de reduzir o uso de produtos químicos como herbicidas e ureia, e facilitar o plantio, o que torna a área mais rentável.
A Emater-RS tem procurado difundir entre os agricultores da região a técnica, que já é milenar nos países asiáticos. De acordo com estudo divulgado pela instituição, ao implantarem o sistema em uma fazenda no município de Restinga Seca entre 1996 e 2004, reduziu-se em 80% a infestação de arroz vermelho da lavoura, assim como controle das demais pragas. Além disso, ocorreu crescimento da fertilidade e da produtividade da área cultivada, assim como bom retorno financeiro através da comercialização de 1.500 kg de carne e 800 dúzias de ovos por ano.
De acordo com a FAO, a produção brasileira de arroz em 2010 (dados oficiais mais recentes) ultrapassou 11 milhões de toneladas, sendo a 9ª maior produção do mundo. O estado do Rio Grande do Sul é o responsável pela maior produção do grão em toda a América Latina.
Saiba mais
Controle Biológico de Pragas e Invasoras do Arroz Irrigado com o Marreco-de-Pequim
Leia também
Cultivo de arroz e conservação da natureza
Aves, cetraria e agricultura
Insetos e meio ambiente