segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Retrospectiva ambiental 2011

O ano de 2011 foi mais um ano ecologicamente problemático, com níveis recordes de gases do efeito estufa, derretimento do gelo Ártico próximo do máximo, verificado em 2007, e com a temperatura média atingindo o 11º lugar entre as mais altas de todos os tempos.

Na superfície, o ano foi marcado por extremos de calor e frio sem paralelos nos EUA, secas e ondas de calor na Europa e na África, fora o número recorde de desastres naturais relacionados ao clima.

Além disso, em 2011 a população mundial atingiu 7 bilhões de pessoas, ocorreu o segundo pior desastre nuclear de todos os tempos e tivemos investimentos recorde em energia renovável.

Os 41 indicadores sobre o ar e a superfície usados pelo NOAA (Administração Nacional de Atmosfera e Oceanos), órgão americano, mostraram de forma inequívoca que, visto pelas temperaturas do ar e do solo, o mundo continuou a aquecer ao longo de 2011. Em julho, um relatório do NOAA apontou que os últimos 300 meses foram todos de temperaturas acima da média e que os 13 anos mais quentes da história estão entre os últimos 15 anos desde 1997. O ano de 2011 também se destacou nesse sentido, disse o relatório, porque tivemos uma ocorrência de La Niña , um fenômeno natural de resfriamento oceânico que, normalmente, reduziria as temperaturas.

LEONARDO BOFF

"Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)

(...) Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."

Casamento entre o céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001.pg09

Leonardo Boff

"Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)

(...) Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."

Casamento entre o céu e a terra. Salamandra, Rio de Janeiro, 2001.pg09

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CARTA AOS AMIGOS DO GEAN

Amigos do GEAN,
O GEAN vem há mais de dez anos trabalhando em prol do meio ambiente na nossa região.Realizamos vários projetos ambientais na nossa cidade: Amigos do Arroio Grande( monitoramento das condições do rio que banha nossa cidade), Árvores do Arroio Grande ( levantamento arbóreo das praças e APPs do município) e Projeto Mato Grande para recordar alguns dos mais importantes.
O Projeto Mato Grande tem como objetivo reunir a comunidade para acompanhar a implantação da REBIO Mato Grande e refletir sobre sua importância ecológica para a bacia da Lagoa Mirim. Estamos a mais de dez anos trabalhando neste projeto: realizando seminários, mobilizando órgãos público( SEMA, IBAMA, PATRAM), pesquisadores e ambientalistas ( da UFPEL, UCPEL, FURG, IFSUL, UFRGS, Fundação Zoobotânica, outras ONGs,(CEA, NEMA, PACHAMAMA), autoridades locais ( Prefeitos e Secretários Municipais, Vereadores, Promotora de Justiça) , autoridades internacionais, pescadores, arrozeiros, proprietários de terra e comunidades em geral. Nosso desejo sempre foi que este processo de implantação fosse o mais harmônico possível, respeitando as diferenças e falando francamente da importância desta REBIO e das possíveis restrições que a implantação da REBIO poderá acarretar para os proprietários e lindeiros.
Depois de mais de 35 anos de espera pela implantação da REBIO, finalmente foram nomeados o Gestor e Guarda Parque da REBIO e começou o levantamento fundiário e a demarcação desta UC. É um momento delicado que requer bom senso de todos os segmentos envolvidos. Desejamos que o processo de implantação ocorra de forma pacífica. e ordeira.
Temos a consciência tranquila que temos feito o melhor possível pela implantação da REBIO Mato Grande e esperamos em breve participar do Conselho do Mato Grande e fazer muitos Seminários junto à SEMA, conforme ficou acordado no Seminário de Implantação da REBIO Mato Grande do ano de 2010.
Saudações
Jussara Pereira
Coordenadora do Projeto Mato Grande
GEAN - Grupo Ecológico Amantes do Mato Grande
Arroio Grande, RS, BR

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CONHEÇA MELHOR !!!!!

RESERVA BIOLÓGICA DO MATO GRANDE

UM PATRIMÕNIO CULTURAL E NATURAL

Juliana Corrêa Pereira
José Milton Schlee Jr.

A Reserva Biológica do Mato Grande foi decretada no dia 12 de março de 1975 pelo Decreto Estadual n° 23.798, com a finalidade de recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais.
O Grupo Ecológico Amantes da Natureza (GEAN) juntamente com a comunidade de Arroio Grande (RS, Brasil) tem lutado desde 2001 pela implantação desta unidade de conservação no Mato Grande como forma de assegurar a conservação e preservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida das populações locais abrangidas. Sem a sua efetiva implantação ocorre uma gradativa perda da biodiversidade do ecossistema do Mato Grande, tornando-se vulnerável o equilíbrio natural de toda a biorregião da Lagoa Mirim.

ASPECTOS BIOFÍSICOS: CLIMA, GEOLOGIA, GEOMORFOLOGIA.

A Reserva Biológica do Mato Grande possui uma área de 5.161ha do bioma de restinga, atualmente de domínio privado, localiza-se no Distrito de Santa Isabel (32°08’ S, 52°44’ W), município de Arroio Grande, sul do Rio Grande do Sul, Brasil (Figura 1).Considerada uma das áreas núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, devido sua importância para a conservação de remanescentes de mata de restinga.
O clima da região, como em toda a Planície Costeira do Rio Grande do Sul, é subtropical úmido, enquadra-se na classificação de Köpeen como “Cfa”, mesotérmico brando, com temperaturas médias das máximas superior a 22°C e a média das mínimas entre -3 e 18°C (Vieira,1988). Quanto aos níveis de precipitação, apresenta valores médios anuais entre 1150mm e 1450mm, com 92 a 110 dias de chuva por ano (Schlee Jr, 2000).
O Mato Grande está localizado na Planície Costeira interna em região fisionômica natural marcada por terrenos de sedimentação recente associados geomorfologicamente as transgressões e regressões marinhas quaternárias, responsáveis pela gênese do complexo lagunar: Lagoa Mirim, canal do São Gonçalo e Laguna dos Patos.
Localização da Reserva Biológica do Mato Grande (a); Ficus organensis espécie característica do Mato Grande (b) e aspecto geral da mata de Restinga, campos e banhados(c).
Os terrenos quartenários, com altitudes inferiores a 15m são cobertos sobre tudo de dunas e banhados. A vegetação florestal forma fragmentos longitudinais associados aos solos bem drenados, tipo Areias Quartzosas distróficas com baixo conteúdo de matéria orgânica e solos mal drenados, que pode variar desde Solos Orgânicos até Glei Húmicos e Glei Pouco Húmico (Waechter & Jarenkow, 1998).

ASPECTOS DO AMBIENTE NATURAL E BIODIVERSIDADE DO MATO GRANDE

Inserida no Bioma de Restinga a REBIO possui associados ecossistemas de banhados, matas de restinga paludosa e arenosa, campos arenosos secos e úmidos. Toda esta complexidade biológica está refletida nos elementos da fauna e flora, apresentando componentes florísticos pertencentes fitogeograficamente a todos contingentes migratórios da flora estadual. Estruturalmente a mata apresenta elevado valor de equabilidade e diversidade específica, ressaltando também a influência atlântica na fisionomia da reserva dada pela presença de Figueiras, Bromeliáceas e Orquidáceas (Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares, 2005).
No Mato Grande, os banhados ocupam grande área de alagamentos no inverno, formando uma rede entre os arroios Parapó e Moreira, e a Lagoa Mirim; no verão os banhados adquirem feições pantanosas, tornando-se algumas áreas com características de campo úmido.
A Mata de Restinga Arenosa tem como principal característica apresentar uma maior complexidade estrutural florística dentre o ecossistema Restinga, localiza-se em áreas bem drenadas, não sujeitas à alagamentos sazonais, sobre cristas de dunas pleistocênicas. As espécies arbóreas com maior representação fisionômica nos remanescentes de mata são: Ficus spp. (figueira-de-folha-miúda e figueira-de-folha-grande), Ruprechtia laxiflora (farinha-seca), Erythrina crista-galli (corticeira).
A influência tropical se observa na floresta do Mato Grande em todas as formas de vida e ambientes, exemplificado pelo elevado número de espécies epifíticas e herbáceas: Bromeliáceas (7), Orquidáceas (7), Cactáceas (5) e Piperáceas (5) e arbustivas: Acanthaceae (1) e Rubiaceae (1) (Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares, 2005).
Quanto à fauna observada na REBIO, percebe-se a associação de aves palustres, aves migratórias do hemisfério norte e sul tanto quanto aves florestais. Foram encontrados mamíferos ameaçados de extinção a nível estadual e regional, bem como espécies generalistas que possuem papel de extrema importância como dispersores em fragmentos florestais no sul do Rio Grande do Sul, e que mantém suas populações ainda viáveis em toda biorregião no Mato Grande e Lagoa Mirim.
Com o intuito contribuir com ferramentas científicas comprobatórias necessárias para a efetiva implantação da Reserva Biológica do Mato Grande, um grupo de pesquisadores do Grupo Ecológico Amantes da Natureza realiza uma série de estudos qualitativos e quantitativos do ambiente natural (a fauna, a flora, as suas relações ecológicas). Ecologia Florestal foi pesquisado pela equipe de biólogos José Milton Schlee Jr. e Juliana Corrêa Pereira, o estudo sobre os mamíferos terrestres de médio e grande porte foi realizado pelo Ecólogo José Bonifácio Garcia Soares, e levantamento ornitológico na REBIO e entorno, está sendo desenvolvido pela equipe composta pelos biólogos: Prof. Rafael Dias, Marco Antônio Afonso Coimbra e Jéferson Vizentin Bugoni. Além disso, o Engenheiro Agrônomo Cláudio Corrêa Pereira estudou o histórico da ocupação indígena pré-colonial no Mato Grande.
Ecologia Florestal na Reserva Biológica do Mato Grande

No levantamento florístico geral da mata de restinga foram encontradas 89 espécies distribuídas em 37 famílias, pertencentes a sinúsia arbórea, arbustiva, herbácea e epifítica (Tabela 1).

Tabela 1. Espécies presentes na mata de restinga na Reserva Biológica do Mato Grande, Arroio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.
EPHEDRACEAE
Ephedra tweediana
ACANTACEAE
Dicliptera sp.
Hygrophila sp.
Justicia brasiliana Roth
ANACARDIACEAE
Lithraea brasiliensis Marchand
Schinus polygamus
AQUIFOLIACEAE(Edwin 1967)
Ilex dumosa Reiss.
ASTERACEAE
Mikania cordifolia (L. F.)Willd.
BROMELIACEAE
Aechmea recurvata
Billbergia nutans Wendl. Ex. Regel
Bromélia antiacantha Bertol.
Tilandsia aëranthus (Loisel.) L. B. Smith
Tilandsia geminiflora Brongn.
T. stricta
Tilandsia usneoides L.
CACTACEAE
Cereus hildmanianus K. Schum.
Lepismium cruciforme (Vell.) Miq.
Lepismium lumbricoides (Lem.) Barthl.
Opuntia monacantha Haw.
Rhipsalis baccifera (Mill)Stearn
CAESALPINIACEAE (Burkart 1987...)
Senna corymbosa
CELASTRACEAE (Okano, 1992)
Maytenus cassineformis Reissek
M. ilicifolia Mart ex Reiss.
COMBRETACEAE (Exell & Reitz 1967)
Terminalia australis Camb.
COMMELINACEAE
Tradescantia fluminensis Vell
Tripogandra glandulosa (Seub.)Rohweder
EBENACEAE
Diospyros inconstans Jacq.
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum argentinum Schultz
EUPHORBIACEAE
Sebastiania brasiliensis Spreng.
Sebastiania commersoniana
Sebastiania schottiana
FLACOURTIACEAE (Sleumer 1980)
Casearia decandra Jacq.
Casearia silvestris Sw.
Xylosma pseudosalzsmanii
LAMIACEAE
Vitex megapotamica(Spreng.)Mold.
MALVACEAE
Hybiscus cisplatensis
Pavonia friesii Krap.
Pavonia sepium Vell.
Sida prostrata St.-Hil.
Sida rhombifolia L.
MELIACEAE
Trichilia elegans A Juss.
MIMOSACEAE
Calliandra tweediei Bentham
Mimosa bimucronata(DC.) Ktze
MORACEAE
Ficus luschnathiana(Miq.) Miq.
Fícus organensis
Sorocea bonplandii (Baill.) Burger et al.
MYRSINACEAE (Siqueira 1987)
Myrsine ferruginea = M. Coriacea
Myrsine laetevirens
Myrsine umbellata
M. parvula
MYRTACEAE (Marchiori & Sobral 1997)
Blepharocalyx salicifolius(Kunth)Berg
Eugenia uniflora L.
Eugenia uruguayensis Camb.
Myrcia palustris (DC.)Kaus
Myrcianthes cisplatensis (Camb.)Berg
Myrcianthes gigantea (Legr.)Legr.
ORCHIDACEAE
Campilocentrum aromaticum B. Rodr.
Cattleya intermédia Grah. Ex Hook.
Mesadenella cuspidata (Lindl.)Garay
Oncidium ciliatum Lindl.
Oncidium flexuosum Sims
Oncidium pumilum Lindl.
Pleurothallis smithiana Lindl
PALMAE (Reitz 1974)
Syagrus romanzoffiana (Cham.)Glasm.
PAPILIONACEAE (Neubert & Miotto 1996)
Erythrina crista-galli L.
Sesbania punicea (Cav.) Benth
Vigna adenantha
PHYTOLACACEAE
Phytolacca dioica L. (Burkart, 1987)
PIPERACEAE
Peperomia catharinae Miq.
Peperomia delicatula Hensch.
Peperomia obtusifolia (L.) A Dietr.
Peperomia tetraphylla (Forst.)Hook. Et Arn.
Piper gaudichaudianum Kunth
POLYGONACEAE
Ruprechtia laxiflora
PONTEDERIDACEAE
Pontederia lanceolata Nutt.
RHAMNACEAE
Scutia buxifolia Reiss.
RUBIACEAE
Cephalanthus glabratus
Guettarda uruguensis Cham. Et Schlecht.
RUTACEAE
Zanthoxylum hyemale St.-Hil.
Zanthoxylum rhoifolium Lam.
SANTALACEAE (Mattos 1967b)
Jodina rhombifolia Hook. Et Arn.
SAPINDACEAE
Allophylus edulis (St.-Hil.) Radlk.
Cupania vernalis Camb.
SAPOTACEAE
Chrysophyllum marginatum
Chrysophyllum gonocarpum
Sideroxylom obtusifolium
ULMACEAE (Marchioretto 1988)
Celtis spinosa Spreng.
Trema micrantha (L.) Blume
VITACEAE
Cissus striata Ruiz et Pav.


Na REBIO foram encontradas duas espécies da flora ameaçadas de extinção: Jodina rhombifolia (cancorosa-de-três-pontas) pertencente à família Santalacaceae e Ephedra tweediana da família Ephedraceae. Também ocorrem três espécies imunes ao corte conforme legislação estadual vigente: Erythrina crista-galli (corticeira), Ficus organensis e F. luschnathiana ( figueiras).

Estudo fitossociológico do componente arbóreo de um
remanescente de Mata de Restinga Arenosa, sul do Brasil.

Capítulo baseado no artigo publicado por Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares (2005).


Metodologia

A metodologia utilizada para a análise e compreensão da flora inclui levantamento quantitativo e qualitativo. A amostragem fitocenológica do componente arbóreo foi analisada através do método dos quadrantes centrados (Cottam e Curtis, 1956; Waechter e Jarenkow, 1998; Durigan, 2003). A árvore mais próxima dentro de cada quadrante com diâmetro à altura do peito (DAP) igual ou superior a 5cm foram amostradas, anotando-se a sua altura e distância até o ponto. Estimou-se para as espécies amostradas os parâmetros absolutos e relativos de densidade, freqüência, dominância, assim como os valores de importância (VI) e cobertura (VC), o índice de diversidade de Shannon (H’) e a equabilidade de Pielou (J’) (Magurran,1988).

Resultados

Na análise estrutural da sinúsia arbórea, foram inventariados até o momento 20 pontos amostrais e completada a avaliação qualitativa da flora fanerogâmica de todos os ambientes dentro da REBIO Mato Grande.
Nos três transectos realizados foram amostrados 20 pontos, totalizando uma área de trabalho de 909,327m2. A distância média estimada de 3,371m resultou em uma densidade total de 879,771 ind/ha distribuídos em 17 espécies e 13 famílias.
As espécies que se destacaram em VI foram Ficus luschnatiana (13,77), Ruprechtia laxiflora (12,35), Sideroxylum obtusifolium (11,06), Zanthoxylum rhoifolium (9,72) e Jodina rhombifolia (6,93) que acumularam 53,83% do total (Tabela 2).
Nesta organização em valores de importância observa-se a relevância das espécies oriundas do contingente migratório atlântico, definindo o aspecto fitofisionômico do Mato Grande, caracterizado pelo dossel constituído por Ficus luschnatiana e Sideroxylum obtusifolium que apresentam valores altos de dominância, assim como elevada área basal e altura; a submata é constituída por Ruprechtia laxiflora, Zanthoxylum rhoifolium e Jodina rhombifolia que possuem elevada freqüência e densidade, no entanto apresentam baixa área basal e altura (Tabela 2).
O índice de diversidade de Shannon (2,55 nats.indivíduo-1) é um dos mais altos já registrados para as matas de restinga do sul do Rio Grande do Sul, assim como no resultado do índice de equabilidade de Pielou (J’) que foi 0,90 (Tabela 3), provavelmente influenciado pela maior continentalidade em relação a outras matas de restinga do estado, e por influência dos diversos contingentes migratórios de flora que chegam ao Mato Grande oriundos dos corredores de diversidade como os arroios Parapó e Moreira, canal São Gonçalo.
Ao analisar a ecologia florestal do Mato Grande a riqueza específica e elevado índice de diversidade da estrutura da sinúsia arbóreo denota a extrema importância da manutenção das relações interespecíficas entre fauna e flora em toda a biorregião do Mato Grande.
Das espécies arbóreas amostradas 94% apresentam síndrome de dispersão por animais (zoocórica), o que segundo Morellato (1992) é uma das principais características das florestas tropicais onde cerca de 60 a 90% das espécies vegetais da floresta são adaptadas a este tipo de dispersão, o que evidencia a influência tropical e a riqueza estrutural da floresta do Mato Grande para a manutenção do equilíbrio dinâmico das florestas da Bacia da Lagoa Mirim (Tabela 4).



Tabela 2. Parâmetros fitossociológicos estimados para as espécies arbóreas amostradas em um remanescente de Mata de Restinga, na Reserva Biológica do Mato Grande, para indivíduos com DAP≥5cm em ordem decrescente de valor de importância, onde Ni é o número de indivíduos amostrados, DA a densidade absoluta, DR a densidade relativa, FA a freqüência absoluta, FR a densidade relativa, AB a área basal, DoA a dominância absoluta, DoR a dominância relativa, IVI o índice de valor de importância e IVC o índice de valor de cobertura.

Ponto/Espécie Ni DA DR(%) FA(%) FR(%) AB(cm2) DoA(cm) DoR(%) VI IVC
11.1-Ficus luschnatiana 3 32,991 3,75 10 3,5 14070,346 154733,62 34,051 13,77 37,8
2.3-Ruprechtia laxiflora 15 164,96 18,75 40 14,03 1771,667 19483,27 4,28 12,35 23
2.4-Sideroxylum obtusifolium 5 54,985 6,25 25 8,77 7506,314 82548,016 18,16 11,06 24,4
1.2-Zanthoxylum rhoifolium 11 120,97 13,75 35 12,28 1293,636 14219,307 3,13 9,72 16,9
14.1-Jodina rhombifolia 6 65,982 7,5 25 8,77 1863,676 20495,113 4,51 6,93 12
14.2- Eugenia uniflora 8 87,977 10 25 8,77 465,295 5116,916 1,126 6,63 11,1
4.3-Vitex megapotamica 3 32,991 3,75 15 5,26 3774,707 41510,996 9,13 6,05 12,9
1.1-Casearia silvestris 6 65,982 7,5 20 7,01 1259,026 13845,69 3,046 5,85 10,5
2.1-Diospyrus inconstans 4 43,988 5 15 5,26 2762,209 30376,41 6,684 5,65 11,7
3.4-Eugenia uruguayensis 5 54,985 6,25 20 7,01 701,095 7710,042 1,69 4,98 7,94
5.1-Syagrus rommanzofianum 1 10,997 1,25 5 1,75 412,541 4536,772 10,979 4,66 12,2
2.1-Ficus organensis 3 32,991 3,75 10 3,5 2753,22 30277,556 6,663 4,64 10,4
5.4-Chrysophylum marginatum 5 54,985 6,25 15 5,26 983,206 10812,458 2,379 4,63 8,63
9.1-Cereus hildmanianus 2 21,994 2,5 10 3,5 729,03 8017,247 1,764 2,59 4,26
3.1-Chrysophylum gonocarpum 1 10,997 1,25 5 1,75 498,646 5483,68 1,206 1,40 2,46
17.2-Scutia buxifolia 1 10,997 1,25 5 1,75 444,133 4884,194 1,074 1,36 2,32
20.2-Erythroxylum argentinum 1 10,997 1,25 5 1,75 31,831 350,05 0,077 1,03 1,33



Tabela 3. Levantamentos fitossociológicos realizados no sul do Brasil, indicando o autor, a localização da área de estudo, os métodos de amostragem, número de espécies (Ne), densidade total por área (DTA), o índice de diversidade de Shannon (H’) e o índice de equabilidade de Pielou (J’).
Fonte Método Ne DTA H’ J’
(ind/ha)
SCHLEE Jr., 2000 Parcelas 34 1224 2,53 0,71
Capão do Leão, RS 0,5 ha
31°47’S, 52°15’W
Área de Formações Pioneiras
KILCA, 2002 Parcelas
Rio Piratini, RS 0,5 ha 37 2202 2,87 0,79
31°54’S, 52°39’W 0,5 ha 29 1734 2,31 0,69
Floresta Estacional Semidecidual
CORRÊA-PEREIRA, 2004 Parcelas 32 1676 2,64 0,76
Arroio Grande, RS 0,5 ha
32°04’S, 53°05'W
Floresta Estacional Semidecidual
Este estudo Quadrantes 17 880 2,55 0,90
Arroio Grande, RS 20 pontos
32°08'S, 52°44'W
Área de Formações Pioneiras
WAECHTER & JARENKOW, 1998 Quadrantes 12 791 1,886
Taim, RS 30 pontos
32°30' a 32°50'S, 52°20' a 52°40'W
Área de Formações Pioneiras


Tabela 4. Relação das espécies amostradas em um remanescente de Mata de Restinga, na Reserva Biológica do Mato Grande, Arroio Grande, RS, com a categoria sucessional (Cat. Suc.), onde Pio=pioneira, Sin=secundária inicial, Sta=secundária tardia; com síndrome de dispersão (Sín. Disp.), onde Ane= anemocórica, Aut= autocória e Zoo= zoocória; e com os contingentes migratórios.
Família Espécie Nome popular Cat. Suc. Sín. Disp. Contigente
Flacourtiaceae Casearia sylvestris chá-de-bugre Sin Zoo pantropical
Rutaceae Zanthoxylum rhoifolium Mamica-de-cadela Sin Zoo pantropical
Moraceae Ficus organensis figueira-de-folha-miúda Sta Zoo pantropical
Ebenaceae Diospyrus inconstans maria-preta Sta Zoo pantropical
Polygonaceae Ruprechtia laxifolia marmeleiro-do-mato Sin Ane oeste
Sapotaceae Sideroxylum obtusifolium Quixadeira Sta Zoo anfiatlântico
Sapotaceae Chrysophylum gonocarpum aguaí-da-serra Sta Zoo pantropical
Myrtaceae Eugenia uruguayensis Batinga-vermelha Sta Zoo pantropical
Lamiaceae Vitex magapotamica Tarumã Sta Zoo pantropical
Arecaceae Syagrus rommanzofiana Gerivá Sin Zoo neotropical
Sapotaceae Chrysophylum marginatum aguaí-vermelho Pio Zoo pantropical
Cactaceae Cereus hildimanianus mandacarú Sta Zoo neotropical
Moraceae Ficus luschnatiana figueira-de-folha-grande Sta Zoo pantropical
Santalacaceae Jodina rhombifolia cancorosa-de-três-pontas Sta Zoo chaquenho
Myrtaceae Eugenia uniflora pitangueira Sin Zoo pantropical
Rhamnaceae Scutia buxifolia Corunilha Sin Zoo pantropical
Erythroxylaceae Erythroxylum argentinum Cocão Sta Zoo pantropical


Estudo sobre mamíferos de Médio e Grande Porte na REBIO Mato Grande

Capítulo baseado no artigo publicado por Correa-Pereira, Schlee Jr & Soares (2005).

Metodologia

Quanto à metodologia empregada para os estudos da mastofauna, foram utilizados métodos que envolvem técnicas diretas e indiretas de identificação. Para a identificação direta das espécies foram empregadas quatro armadilhas fotográficas instaladas em trilhas freqüentemente utilizadas pelos animais (Vidolin, 2000; Wemmer et al 1996; Tomas e Miranda, 2003), assim como a identificação visual e localização de carcaças. A identificação indireta foi feita através da identificação de odores, tocas, fezes e pegadas (Travi & Gaetani, 1985; Becker & Dalponte, 1991) e a utilização de armadilhas de pegadas (plots).
As armadilhas foram montadas em locais que maximizem a possibilidade de captura tais como trilhas ou locais próximos a água, distanciadas no mínimo a cada 1km de forma a possibilitar uma maior independência dos dados. Armadas por período médio de 72 horas/máquina nas saídas de campo mensais. Quirópteros e roedores pertencentes às famílias Cricetidade, Muridae, Ctenomydae e Echymydae foram omitidos do inventário em função de problemas logísticos e de identificação. A seqüência taxonômica e a nomenclatura seguem González (2001).

Resultados

Quanto a analise da mastofauna ocorrente na região de estudo, foram registradas 12 espécies de mamíferos pertencentes a 09 famílias (Tabela 5). Dentre as espécies encontradas, o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) (Figura 2) e a lontra (Lontra longicaudis) são consideradas ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul (Marques et al., 2002). O gato-maracajá (Leopardus wiedii), igualmente ameaçado, carece de confirmação. Entretanto, a ocorrência desse felino é esperada, considerando que foi registrado em estudo anterior em área de geomorfologia e vegetação similar à área de estudo. Sendo considerada uma espécie de hábitos principalmente arborícola, a presença deste felino provavelmente ocorra devido ao uso dos corredores de mata ciliar que ligam ambientes florestais da Serra do Sudeste com ambientes de Restinga da Planície Costeira.

Tabela 4 – Mamíferos inventariados entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005 na REBIO do Mato Grande, município de Arroio Grande, Rio Grande do Sul. Táxons indicados com um asterisco são considerados ameaçados de extinção no Rio Grande do Sul (sensu Marques et al., 2002), ao passo que aqueles marcados com dois asteriscos foram introduzidos na América do Sul pelo homem. Acrônimos das categorias de ameaça: Vu – vulnerável; En – em perigo; Cr – criticamente em perigo. Acrônimos da forma de registro: Ft – flagrante fotográfico; Ov – observação visual; Cc – observação de carcaças; Vt – observação de vestígios.
TÁXONS NOME POPULAR REBIO MATO GRANDE
Ov Ft Vt Cc
DIDELPHIMORPHIA
DIDELPHIDAE
Didelphis albiventris gambá-de-orelha-branca X X
CINGULATA
DASYPODIADE
Dasypus novemcinctus tatu-galinha X X X X
CARNIVORA
CANIDAE
Lycalopex gymnocercus graxaim-do-campo X
Cerdocyon thous graxaim-do-mato X X X
FELIDAE
Oncifelis geoffroyi *Vu gato-do-mato-grande X
MUSTELIDAE
Conepatus chinga Zorrilho X X
Galictis cuja Furão X X
Lontra longicaudis *Vu Lontra X
PROCYONIDAE
Procyon cancrivorus mão-pelada X
RODENTIA
HYDROCHOERIDAE
Hydrochoerus hydrochaeris Capivara X X X X
MYOCASTORIDAE
Myocastor coypus ratão-do-banhado X X X X
LAGOMORPHA
LEPORIDAE
Lepus sp. ** Lebre X

No local de estudo, foi verificada reprodução de pelo menos três espécies, conforme evidenciado por flagrante fotográfico de ratão-do-banhado (Myocastor coypus), observação visual de capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) e pegadas de mão-pelada (Procyon cancrivorus).


Registro fotográfico de espécie ameaçada de extinção, gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) na Reserva Biológica do Mato Grande.

O habitat de muitas espécies na Planície Costeira na biorregião da Lagoa Mirim foi devastado por atividades agropastoris, com a conversão de campos e banhados em lavouras de arroz ou áreas de pecuária e as matas alteradas pelo sobrepastoreio do gado, restando somente alguns remanescentes de matas ciliares, de restinga e trechos de banhados mais profundos. Espécies ameaçadas de extinção, como o gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi) e a lontra (Lontra longicaudis) encontrados na REBIO do Mato Grande, sofrem para manter suas populações geneticamente viáveis devido a essas grandes modificações no ambiente natural.
A intensa pressão exercida pela caça ilegal está impactando as populações de mamíferos locais. Durante as amostragens constatou-se um grande número de carcaças, principalmente de ratão-do-banhado (Myocastor coypus) espalhadas em locais com vestígios de acampamentos humanos.



Estudo sobre o Histórico da Ocupação Indígena Pré-Colonial no Mato Grande

Quanto aos estudos de ocupação indígena pré-colonial no Mato Grande, realizados pelo Eng. Agr. Cláudio Correa Pereira, foram encontrados até o presente momento 14 sítios arqueológicos distribuídos na extensão de toda a crista de duna plestocênica orientada no sentido Leste-Oeste, paralela a Lagoa Mirim (Figura 3).
Diversos artefatos indígenas foram observados: materiais líticos (raspadores, percutores, pontas-de-flecha) e cerâmicos (cacos de cerâmica). E em um dos sítios apresentaram vestígios de uma ocupação mais duradoura, através de camadas com restos orgânicos (fragmentos de ossos de mamíferos, vértebras de peixes, restos de conchas, carvão e cinzas).


Sítio arqueológico na Reserva Biológica do Mato Grande.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Reserva Biológica do Mato Grande é um inestimável patrimônio cultural e natural para as futuras gerações, os estudos realizados até o momento pelo Grupo Ecológico Amantes da Natureza demonstram sua extrema importância e relevância para conservação e preservação de toda a biorregião da Lagoa Mirim.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Correa-Pereira, J.; Schlee Jr, J.M.; Soares, J.B. 2005. Análise Ecossistemica Do Mato Grande: Perspectivas De Implantação Da Reserva Biológica Do Mato Grande – Arroio Grande, Sul Do Brasil.Anais...III Simpósio de Áreas Protegidas, UCPEL, Pelotas.
Cottam, G.; Curtis,J. T. 1956. The use of distance measures in phytosociological sampling. Ecology, 37(3):451-460.
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Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Croom Helm, London, 179p
Marques, A. A. B.; Fontana, C. S.; Vélez, E.; Bencke, G. A.; Schneider, M. & Reis, R. E.2002. Lista das espécies da fauna ameaçadas de extinção no Rio grande do Sul. Decreto n° 41.672, de 11 de junho de 2002. Porto Alegre, FZB/MCT-PUCRS/PANGEA. (Publicações Avulsas FZB, 11).
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Juliana Corrêa Pereira e José Milton Schlee Jr.
Biólogos e Pesquisadores do
Grupo Ecológico Amantes da Natureza

MATA CILIAR

Mata ciliar, vegetação ribeirinha, vegetação ripária ou vegetação ripícola é a designação dada à vegetação que ocorre nas margens de rios e mananciais. O termo refere-se ao fato de que ela pode ser tomada como uma espécie de "cílio" que protege os cursos de água do assoreamento. Elas estão sujeitas a inundações frequentes.

No Cerrado brasileiro, a mata ciliar é conhecida como mata de galeria, e é composta por vegetação mais frondosa. Ocupa áreas de vales úmidos ao longo de cursos de água, em solos aluvionados por conta da erosão. Meliaceae, Euphorbiaceae, Moraceae, Lauraceae, entre outras, fazem parte do grupo de espécies existentes nessa vegetação. É também importante no processo de barragem de detritos e para estabilização de barrancos. Algumas matas de galeria formam veredas herbáceas em suas bordas, importantes vias de trânsito da fauna.

Floresta que se mantém verde durante o ano todo (não perde as folhas durante a estação seca) que acompanha os córregos e riachos da região Centro-Oeste do Brasil. Apresentam árvores com altura entre 20 e 30 metros.

Esta fisionomia é comumente associada a solos hidromórficos, com excesso de umidade na maior parte do ano devido ao lençol freático superficial e grande quantidade de material orgânico acumulado, propiciando a decomposição que confere a cor preta característica desses solos.

A mata ciliar é encontrada ao longo do curso dos rios e tem uma fisiologia dos diversos biomas existentes, mesmo não estando diretamente ligada a eles. As espécies arbóreas apresentam diferenciações sutis que só são percebidas por um bom especialista em taxonomia.

Matas ciliares ajudam a sedimentar o controle, reduzir os efeitos danosos das enchentes e ajuda na estabilização dos igarapés.

Zonas ribeirinhas são zonas de transição entre um ambiente de sequeiro terrestre e um ambiente aquático. Organismos encontrados nesta zona são adaptados a inundações periódicas.

Essas formações arbóreas variam de acordo com a região onde se encontram e a vegetação que predomina no local. Podendo ser encontradas do norte ao sul do Brasil, apresentam uma notável biodiversidade arbórea.

“…todas essas florestas associadas a curso d’água tem uma estrutura e funcionalidade ecossistemática, aparentemente similar. No entanto elas diferem fundamentalmente entre si, pela sua composição taxonômica, conforme o domínio, a região, e até a altitude em que são encontradas…" (Rodrigues e Filho, 2001).

Esses tipos de mata são considerados por muitos um verdadeiro mosaico, pois podem ocorrer de uma forma ou de outra em todas as regiões do país. Esse tipo de mata também influencia na forma que existirá naquela região de predominância da mata ciliar. Para entender melhor sobre esses aspectos observaremos algumas características do solo, da bacia hidrográfica e de outros elementos existentes durante o curso das águas, que influencia diretamente nas características das espécies arbóricas existentes nestes locais.

'APP' - Considerada pelo Código Florestal Federal como "área de preservação permanente", com diversas funções ambientais, devendo respeitar uma extensão específica de acordo com a largura do rio, lago, represa ou nascente. Protegida pela lei 4771 de 15.09.65.




Como vimos inicialmente, as formações arbóreas existentes na beira dos rios se modificam conforme as necessidades que os locais onde elas se encontram pedem. Mas também há diferença nos nomes a que se dá a essas formações.

Essas matas de modo geral são chamadas de “formação ribeirinha”, têm sido comuns em algumas literaturas por suas características edáficas (floresta de brejo, de várzeas ou aluvial). As comunidades ribeirinhas que vivem perto destas áreas de mata ciliar muitas vezes chamam essas áreas por nomes baseados nas espécies que predominam no local (cocais, buritizais etc).

Dentro dessa nomenclatura podemos encontrar o termo “floresta de galeria”, encontrada nas regiões onde não há formação florestal como cerrado, caatinga, entre outros. Quando essas formações ocorrem em locais onde os solos são encharcados podemos definir como “floresta paludosa”.

Dessas denominações que são bastante usadas em publicações sobre formações ribeirinhas, outras denominações são dadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no sistema fisionômico ecológico, apresentou vários aspectos interessantes, dentre eles destacamos:

1.Nas florestas ribeirinhas há uma subdivisão com características ambientais na forma de relevo, sendo acrescentadas ao termo aluvial no final dessas denominações (Floresta Ombrófita Densa Aluvial)
2.A criação de uma categoria para as formações primárias (não antrópico*), no nível das Regiões Fitoecológicas podendo assim ser chamadas de “formações pioneiras” com influência fluvial nessas áreas para as áreas de restinga são chamadas de “vegetação com influência marinha”, para as áreas de manguezais e campos sulinos “vegetação com influência fluviomarinha”.
Encontram-se também transições de solo, de vegetação e de um grande gradiente de umidade do solo, que impõem o tipo de vegetação. As matas ciliares são sistemas que funcionam como reguladores do fluxo de água, sedimentos e nutrientes entre os terrenos mais altos da bacia hidrográfica e o ecossistema aquático.

Essas matas desempenham o papel de filtro, o qual se situa entre as partes mais altas da bacia hidrográfica, desenvolvida para o homem para a agricultura e urbanização; e a rede de drenagem desta, onde se encontra o recurso mais importante para o suporte da vida, que é a água.

Os ecossistemas formados pelas matas ciliares desempenham suas funções hidrológicas das seguintes formas:

■Estabilizam a área crítica, que são as ribanceiras do rio, pelo desenvolvimento e manutenção de um emaranhado radicular;
■Funcionam como tampão e filtro entre os terrenos mais altos e o ecossistema aquático, participando do controle do ciclo de nutrientes na bacia hidrográfica, através de ação tanto do escoamento superficial quanto da absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pela vegetação ciliar;
■Atuam na diminuição e filtragem do escoamento superficial impedindo ou dificultando o carregamento de sedimentos para o sistema aquático, contribuindo, dessa forma, para a manutenção da qualidade da água nas bacias hidrográficas;
■Promovem a integração com a superfície da água, proporcionando cobertura e alimentação para peixes e outros componentes da fauna aquática;
Através de suas copas, interceptam e absorvem a radiação solar, contribuindo para a estabilidade térmica dos pequenos cursos d'água.

A mata ciliar e a qualidade da água
O principal papel desempenhado pela mata ciliar na hidrologia de uma bacia hidrográfica pode ser verificado na quantidade de água do deflúvio.

Em estudos realizados para verificar o processo de filtragem superficial e subsuperficial dos nutrientes, nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio e cloro; através da presença da mata ciliar, as conclusões foram as seguintes:

■A manutenção da qualidade da água em microbacias agrícolas depende da presença da mata ciliar;
■A remoção da mata ciliar resulta num aumento da quantidade de nutrientes no curso de água;
■Esse efeito benéfico da mata ciliar é devido à absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pelo ecossistema ripário.


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domingo, 11 de dezembro de 2011

ATENÇÃO!!!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Mudanças Climáticas: Brasil pode ter risco de enchentes 87% maior até 2100, diz estudo

Modelos usados em pesquisa britânica indicam que risco de enchentes aumentaria no Brasil

A ocorrência de enchentes em rios do Brasil pode ser quase 90% maior até o fim do século, se nada for feito para combater as mudanças climáticas, de acordo com um estudo divulgado na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima em Durban, na África do Sul.
A pesquisa científica do Met Office Hadley Centre, da Grã-Bretanha, simulou os impactos, em 24 países, de emissões – no padrão atual – em 21 modelos climáticos diferentes. Cada modelo foi produzido por computadores poderosos que simulam a interação entre parâmetros de dados da atmosfera, temperaturas e oceanos.
No caso do Brasil, a conclusão a que chegaram é que o risco de aumento de enchentes no país seria 87% mais alto que atualmente. Esse é o valor central entre os dois extremos dos resultados apresentados pelos modelos climáticos, tanto de aumento (na maioria) quanto de redução do risco.
Os resultados mais extremos dos modelos chegaram a indicar um aumento de 638% no risco de cheias no Brasil. Por outro lado, houve modelos que indicaram até queda neste risco, com o mínimo sendo de -67%.
Sem ações para a redução de emissões, o aumento de temperatura pode ficar entre 3ºC e 5ºC até o fim do século, segundo a pesquisa.
Outra pesquisa divulgada no início da semana indica que, mesmo com as reduções já prometidas, o aquecimento global até 2100 pode chegar a 3,5ºC.

Sinal de alerta
A pesquisa foi encomendada pelo governo britânico e usada como sinal de alerta para que os negociadores de 194 países reunidos em Durban busquem um empenho maior na busca por um acordo de redução de emissões.
“Nós queremos um acordo global e legalmente vinculante para manter (o aumento) das temperaturas abaixo de 2ºC. Se isso for conseguido, este estudo mostra que alguns dos mais significativos impactos das mudanças climáticas poderiam ser evitados significativamente”, afirmou o ministro de Energia e Mudança Climática da Grã-Bretanha, Chris Huhne.
Entre os 24 países analisados no estudo, o Brasil, apesar da possibilidade alarmante de aumento de enchentes, aparece como um dos que menos seriam afetados pelas mudanças climáticas, tanto positivamente quanto negativamente.
A Espanha, por exemplo, pode perder 99% da sua área de cultivo na agricultura, segundo os modelos climáticos, além de enfrentar um aumento na escassez de água que afetaria 68% da população.

“Nós queremos um acordo global e legalmente vinculante para manter (o aumento) das temperaturas abaixo de 2ºC. Se isso for conseguido, este estudo mostra que alguns dos mais significativos impactos das mudanças climáticas poderiam ser evitados significativamente” – Chris Huhne, ministro de Energia e Mudança Climática da Grã-Bretanha
A falta d’água também aparece como problema grave para o Egito, onde 98% da população seria afetada. O país norte-africano também perderia mais de 70% de sua área de cultivo.
A Grã-Bretanha, cujos dados meteorológicos, de temperatura e outros usados nos modelos são mais robustos, poderia até ter motivos para comemorar os impactos das mudanças climáticas. Enquanto o estudo indica que o Brasil não deve perder nem ganhar área de cultivo, a Grã-Bretanha poderia praticamente dobrar a sua agricultura, com um aumento de 96% na área compatível.
Os impactos se devem principalmente a previsões de mudança nos padrões de chuvas no planeta.
Isso pode levar a grandes riscos de fome, principalmente na África e em Bangladesh.

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fonte : Reportagem de Eric Brücher Camara, da BBC Brasil, publicada pelo EcoDebate, 09/12/2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

AQUÍFERO GUARANI

Aquífero Guarani ameaçado por agrotóxicos!


O Aquífero Guarani, manancial subterrâneo de onde sai 100% da água que abastece Ribeirão Preto, cidade do nordeste paulista localizada a 313 quilômetros da capital paulista, está ameaçado por herbicidas.

A conclusão vem de um estudo realizado a partir de um monitoramento do Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp) em parceria com um grupo de pesquisadores, que encontrou duas amostras de água de um poço artesiano na zona leste da cidade com traços de diurom e haxazinona, componentes de defensivo utilizado na cultura da cana-de-açúcar. ( Baixe o PDF do estudo aqui )

No período, foram investigados cem poços do Daerp com amostras colhidas a cada 15 dias. As concentrações do produto encontradas no local foram de 0,2 picograma por litro – ou um trilionésimo de grama.


O índice fica muito abaixo do considerado perigoso para o consumo humano na Europa, que é de 0,5 miligrama (milésimo de grama) por litro, mas, ainda assim, preocupa os pesquisadores, que analisam como possível uma contaminação ainda maior.

No Brasil, não há níveis considerados inseguros para as substâncias. Ainda assim, a presença do herbicida na zona leste – onde o aquífero é menos profundo – acende a luz amarela para especialistas.

Segundo Cristina Paschoalato, professora da Unaerp que coordenou a pesquisa, o resultado deve servir de alerta. "Não significa que a água está contaminada, mas é preciso evitar a aplicação de herbicidas e pesticidas em áreas de recarga do aquífero", disse ela.

O monitoramento também encontrou sinais dos mesmos produtos no Rio Pardo, considerado como alternativa para captação de água para a região no longo prazo. "Isso mostra que, se a situação não for resolvida e a prevenção feita de forma adequada, Ribeirão Preto pode sofrer perversamente, já que a opção de abastecimento também será inviável se houver a contaminação".


Novo estudo realizado pela USP em 2011 constatou contaminação:


O pesquisador explica que a contaminação do aquífero acontece devido a poluição do solo, o que deve ser controlado por meio da gestão pública. “O aquífero contamina porque a qualidade da água depende muito do que você faz sobre a terra. Então, se ao invés de um aterro sanitário bem projetado você faz um lixão, isso pode contaminar o solo. Agora, se você tiver uma boa gestão de manejo do resíduo sólido do lixo, você não vai contaminar o solo. Cabe à política de gestão controlar o que se faz no solo”.

A estimativa da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) é que o estado tenha aproximadamente de 3 a 4 mil áreas contaminadas. O último balanço apresentado pela companhia, em dezembro do ano passado, analisou 24 áreas em Bauru, sendo que oito delas foram denominadas como “contaminadas” e apenas duas como “reabilitadas”.



Aquífero ameaçado

O Sistema Aquífero Guarani, que faz parte da Bacia Geológica Sedimentar do Paraná, cobre uma superfície de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, sendo 839., 8 mil no Brasil, 225,5 mil quilômetros na Argentina, 71,7 mil no Paraguai e 58,5 mil no Uruguai. Com uma reserva de água estimada em 46 mil quilômetros quadrados, a população atual em sua área de ocorrência está em quase 30 milhões de habitantes, dos quais 600 mil em Ribeirão Preto.


A água do SAG é de excelente qualidade em diversos locais, principalmente nas áreas de afloramento e próximo a elas, onde é remota a possibilidade de enriquecimento da água em sais e em outros compostos químicos. É justamente o caso de Ribeirão, conhecida nacionalmente pela qualidade de sua água.

Para o engenheiro químico Paulo Finotti, presidente da Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente (Soderma), Ribeirão corre o risco de inviabilizar o uso da água do aquífero in natura. "A zona leste registra plantações de cana em áreas coladas com lagos de água do aquífero. É um processo de muitos anos, mas esses defensivos fatalmente chegarão ao aquífero, o que poderá inviabilizar o consumo se nada for feito", explica.

Já para Marcos Massoli, especialista que integrou o grupo local de estudos sobre o aquífero, a construção de casas e condomínios na cidade, liberada através de um projeto de lei do ex-vereador Silvio Martins (PMDB) em 2005, é extremamente prejudicial à saúde do aquífero. "Prejudica muito a impermeabilidade, o que atinge em cheio o Aquífero", diz.



Captação

Outro problema que pode colocar em risco o abastecimento de água de Ribeirão no médio prazo é a extração exagerada de água do manancial subterrâneo. Se o mesmo ritmo de extração for mantido, o uso da água do Aquífero Guarani pode se tornar inviável nos próximos 50 anos em Ribeirão Preto.

A alternativa, além de reduzir a captação, pode ser investir em estruturas de captação das águas de córregos e rios que, além de não terem a mesma qualidade, precisam de investimentos significativamente maiores para serem tratadas e tornadas potáveis. A perspectiva já é considerada pelos estudiosos do chamado Projeto Guarani, que envolveu quatro países com território sobre o reservatório subterrâneo. O cálculo final foi entregue no fim do ano.

O mapeamento mostrou que a velocidade do fluxo de água absorvida pela reserva é mais lenta do que se supunha. Pelas contas dos especialistas, a cidade extrai 4% mais do que poderia do manancial. A média de consumo diário de água em Ribeirão é de 400 litros por habitante, bem acima dos 250 litros da média nacional. Por hora, a cidade tira do aquífero 16 mil litros de água. Vale lembrar que a maior parcela de água doce do mundo, algo em torno de 70%, está localizada, em forma de gelo, nas calotas polares e em regiões montanhosas.

Outros 29% estão em mananciais subterrâneos, enquanto rios e lagos não concentram sequer 1% do total. Entretanto, em se tratando da água potável, aproximadamente 98% se encontram no subsolo, sendo o Aquífero Guarani a maior delas.


A alternativa para não desperdiçar esses recursos é investir em reflorestamento para garantir a recarga do aquífero, diz o secretário-geral do projeto, Luiz Amore.

Fonte: Diário Comércio Indústria e Serviços